As árvores morrem de pé

A grande revolução da Internet (até ao smartphone), a grande dádiva da digitalização do mundo foi a de colocar nas mãos de todos, os meios de produção, possibilitando a criação de novas plataformas de acesso, de amplificação exponencial das ideias de mais pessoas, conduzindo-nos em velocidade cruzeiro da idade da informação à era da conexão.

Esta vocação orgânica da Internet estará eventualmente a chegar ao fim, pela reapropriação por parte dos grandes players do mercado: da publicidade personalizada que invade, interrompe, distrai cada minuto de uso da internet, dos filtros de email que retém a newsletter que subscrevemos, aos algoritmos de referenciação que retiram do nosso caminho o que é demasiado diferente conduzindo-nos a polarizações mutilantes. 

Também é verdade que, se todas as pessoas têm um microfone na mão ninguém se fará ouvir, se todos podemos escrever um livro ou realizar (e produzir) um filme, gravar um disco, organizar um evento, ninguém se destaca. São necessários (ou não) novos agentes de curadoria que nos ajudem a separar o trigo do joio.

É uma oportunidade, talvez única na história, para uma curadoria assente não apenas nas dinâmicas de mercado, nos interesses dos lobbies, no condicionamento do acesso, no controle e manipulação das audiências. É uma oportunidade para uma curadoria assente nos valores, quer sociais e individuais, quer os inerentes a cada criação, a cada actividade. 

Usando a segunda fotografia abaixo como metáfora enigmática deste pequeno manifesto dos valores: costuma dizer-se que as árvores morrem de pé, como evocação de heroísmo e resiliência na adversidade,  mas também há as que vivem deitadas.
(Continua)

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