O pequeno ensaio abaixo é uma adaptação do original Framed Nature, escrito em Dezembro de 2019. As fotografias que acompanham foram capturadas no Jardim Garcia de Horta no Parque das Nações.
O jardim urbano representa, na moldura que o separa da cidade, o domínio sobre a natureza, a sua contenção. É o retrato latente do Paraíso perdido. Mas o medo da perda definitiva, a desconfiança, persistem. Talvez pela noção de que não é real, de que estamos perante uma encenação.
Proporciona, ainda assim, um contacto nostálgico com o nosso habitat natural ancestral, um ponto de fuga, uma pausa na opressão massiva do betão. Dependendo da forma como é desenhado, assume, na dinâmica geral da cidade, o equilíbrio entre espaço aberto e o espaço fechado, entre a liberdade, a segurança e a privacidade.
Na sua fluidez, o jardim urbano é uma plataforma de confluência das várias franjas da sociedade, ponto de encontro de marginais. Inócuo e esquecido palco onde contracenam atores das várias classes sociais.