Devir

“A única constante no mundo é a mudança” – não é possível fotografar duas vezes o mesmo rio. A fotografia é a ilusão do tempo suspenso, e como a repetição, o padrão, a coincidência, é ilusão de perenidade.

A luz é a substância do fotógrafo, o seu princípio activo criador. Bola de fogo flamejante que acende o dia e que com a noite se extingue. Luz e sombra trocam de lugar numa dança eterna.

Mas a fotografia implica procura, implica pesquisa, revelação, pois “a Natureza gosta de ocultar-se”. A pesquisa do fotógrafo começa em si mesmo: a clareza da sua imagem mental condiciona a pesquisa que direciona ao mundo natural, condiciona a fotografia. Se não imaginarmos, não acharemos o inimaginável. Pode sempre ir-se mais longe, pode sempre olhar-se mais dentro. O mundo interno e o mundo externo trocam de lugar numa dança eterna.

(continua)

NOTA:
O presente ensaio (em duas partes) resulta de uma apropriação livre, distorcida de alguns textos relativos ao filósofo pré-socrático Heraclito. É um exercício absolutamente experimental em que uso a estrutura do texto original de Abbagnano, redirecionando a exposição para alguns conceitos que tenho vindo a apresentar sobre a natureza da fotografia. Aos aforismos e metáforas citados, junto alguns da minha autoria, replicando a terminologia original.

Neste como em qualquer dos outros textos e fotografias estou totalmente recetivo a opiniões e críticas, que podem deixar abaixo. 
Obrigado!

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