Há alguns anos elaborei o conceito Framed Nature como síntese metafórica da tensão eterna entre os ímpetos naturais e as estruturas racionais de captura, de apropriação, por outras palavras: a tensão entre emoção e razão.
A Fotografia é uma dessas ferramentas de captura numa das suas expressões mais literais: as quatro linhas do enquadramento delimitam o mundo sensível do mundo inteligível. Essas linhas encontram-se replicadas nas estruturas arquitectónicas e sociais da Cidade, estruturas essas que procuram ora capturar, ora excluir, resgatar, domar a natureza dentro e fora de nós.
O jardim urbano na sua moldura, representa portanto, um domínio sobre a natureza, um domínio sobre o medo: é o retrato latente do Paraíso perdido. (Penso que a razão pela qual às vezes atribuímos adjectivos depreciativos aos jardins é devido à percepção de que não é real, de que estamos perante uma encenação). Proporciona, ainda assim, um contacto nostálgico com o nosso habitat natural ancestral, um ponto de fuga, de alívio da opressão massiva do betão. Dependendo da forma como é desenhado, representa, na dinâmica geral da cidade, um equilíbrio entre espaço aberto e fechado, entre liberdade, segurança e privacidade.
Estas características tornam o jardim urbano numa plataforma de confluência das várias franjas da sociedade, e é, nesse sentido (como disse em textos anteriores) ponto de encontro de marginais. É também um inócuo e esquecido palco onde contracenam actores das várias classes sociais.