Os Guardiões, Encore

Numa revisita ao portfolio de Benfica, em torno da igreja e do colégio da paróquia, aproveito para acrescentar algumas fotografias e recontar o episódio que ilustrou a sessão. 

Os Guardiões Entrei na Igreja, fazia sentido captar alguma interioridade. Após uma observação breve, concluí que a luz não era favorável a uma captura rápida e discreta, e que este espaço não tinha uma significação pessoal que justificasse uma abordagem mais estruturada. Sentei-me simplesmente, fiquei a ver as fotografias na câmara.

Num banco mais à frente estava um casal já idoso. O homem virou-se para trás e olhou-me de forma persistente o que naturalmente não me passou despercebido. Devolvi o olhar murmurando em desafio à sua vigília.  

Ele levantou-se e veio abordar-me:

O senhor não pode tirar fotografias aqui. Se o quiser fazer terá que pedir uma autorização. – e indicou-me a porta da sacristia, ao que respondi:

– O senhor está a ver-me a tirar fotografias?

– Estou só a preveni-lo para o caso de querer fotografar.

– Terá que prevenir igualmente as outras pessoas presentes. Hoje em dia, com os telemóveis, toda a gente é um potencial fotógrafo. Ao que o energúmeno responde:

– As outras pessoas já sabem.

– E o senhor acha que eu não sei.

– Você deve ter pelo menos a escolaridade mínima para poder ler o aviso que está à entrada da igreja.

– Olhe, vamos dar por terminada a conversa.

– Só estou a dar-lhe a informação, o senhor faz o que entender.

– Dispenso.

Terminado este pequeno confronto, o homem regressou ao seu lugar junto da mulher. Uma outra velhota que estava de saída da igreja dirigiu-se a mim e perguntou se ia haver alguma festa.

 Não sei senhora.

– Ah,  você está aqui com tudo isso. (Referia-se ao tripé e à câmara)

– Não é por isso.   

No instante seguinte a mulher do sujeito que me abordou levantou-se e avançou rabitesa sacristia adentro. Demorou um minuto e regressou ao seu lugar. Atrás dela o responsável da paróquia com quem tinha trocado já algumas palavras no adro. Vem ter comigo, encolhendo os ombros como que desiludido:

– Não pode tirar fotografias.

– Eu não estou a fotografar. Aquele senhor viu-me com a câmara e achou que o fosse fazer.

Tornou a encolher os ombros e recolheu à sacristia. Aguardei alguns minutos para ver o desenrolar da situação.  

Saí.

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