Os Lobos, I

Depois de Sobral de São Miguel (Covilhã) e de Quintela (Sernancelhe, distrito de Viseu) subia agora até à aldeia de Adeganha (Torre de Moncorvo, Bragança). Viajava ao final da tarde. A noite ia-se deixando cair, densa. 

Estava já a uns escassos quilómetros. A estrada eleva-se numa subida vertiginosa, estreitando sinuosamente em  torno do abismo cego da noite. Seguia naturalmente as indicações do GPS com a confiança dos quilómetros percorridos mas com a precaução tortuosa do desconhecido. O asfalto verteu em terra batida com uma ou duas casas a cada quilómetro de subida, e a terra batida ia estreitando ladeada agora por grandes pedras e cactos silvestres.

A estrada fundia-se com a montanha de forma impercetível e elegante, mas era a Montanha (Serra do Reboredo) que falava agora mais alto. Quando me apercebo estava numa ‘via’ absolutamente incirculável, totalmente imprópria para um automóvel, citadino ou outro, cercado por pedras e cactos. numa escuridão total. Chegou ao seu destino, anunciava o GPS.

Tentava avaliar as minhas opções: poderia persistir mais um pouco e, por fim, chegar à aldeia. Ou poderia voltar para trás e procurar um caminho decente. Mas o caminho já percorrido por entre os calhaus e os cactos era considerável e não tinha, de qualquer forma, espaço para inverter a marcha. Não tinha rede no telemóvel ou internet. Para avançar (ou para recuar) tinha que sair do carro a cada meia dúzia de metros, para avaliar o terreno iluminado pelos faróis. A adrenalina estava em alta, comecei ficar nervoso com a perspetiva eminente de ficar retido na montanha com o carro partido e sem forma de pedir ajuda.

Numa da minhas prospeções de terreno oiço um nítido restolhar nos arbustos ou cactos omissos no breu. Tinha em algum momento anterior questionado num pensamento livre Não é nesta zona que há lobos? Foi a gota que fez transbordar o pânico. Pricipitei-me numa corrida desajeitada até ao carro.

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