Os Lobos, II

Procurei manter a calma, recuperar do susto. Lembrei-me de uma vez na Costa da Caparica em que fiquei preso numa corrente forte e não conseguia voltar para o areal apesar de ter pé e saber nadar. Tudo está bem, não corres risco de vida. É apenas um percalço inconveniente que se resolverá pela manhã na pior das hipóteses, disse para comigo. Estava preso na montanha no meio de pedras e cactos, na escuridão total. Não tinha rede ou internet, mas tinha comida e abrigo. 

Não tinha internet como mencionei, mas tinha ainda o mapa da área carregado no Google Maps. Mudei para vista de satélite e explorei a zona. Estava metido num loop de caminhos de montanha que uma cabra mais fina se recusaria a passar. Localizei a aldeia em relação à minha posição. Duas das estradas do meu loop iam lá dar mas teria ainda que ultrapassar uns 200 metros daquele inferno. No final de uma das estradas identifiquei terrenos agrícolas o que me fez optar por essa pois aparentava maior largueza no final e achei que os acessos estariam melhores.

Avancei mais um pouco e por alguns minutos não estava certo de que o meu ponto no mapa estivesse sincronizado, o que me preocupou pois seria muito difícil saber onde estava exatamente e prosseguir de acordo.  O ponto acabou por sincronizar e percebi que teria ainda assim que inverter a macha, o que me parecia impossível. Na minha manobra de inversão o carro ficou totalmente bloqueado, derrapando nas pedras e na areia. Acabou, pensei. Mas com mais uns balanços lá consegui inverter a marcha.

Contas feitas, tive ali entretenimento para duas horas. Cheguei à aldeia, sem mazelas para além dos riscos no carro de ambos os lados provocados pelos cactos silvestres.

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